(Abril 18, 2025) Quando Gagandeep Kang sobe em um palco global, seja nos corredores da Organização Mundial da Saúde ou na Fundação Bill & Melinda Gates, ela carrega consigo não apenas o peso da conquista científica, mas também o espírito de serviço profundamente enraizado na Índia. Reverenciada como a "Madrinha das Vacinas" da Índia, Kang passou mais de três décadas lutando por um futuro mais saudável para as populações mais vulneráveis do país, especialmente as crianças.
De liderar pesquisas inovadoras sobre rotavírus no Christian Medical College (CMC) em Vellore para moldar estratégias globais de doenças entéricas no GatesA jornada da microbiologista e virologista é de brilhantismo científico, alicerçada em profunda compaixão. Seu trabalho não é meramente científico; é humano. É sobre impacto. É sobre retribuir a uma nação que a moldou, uma descoberta, um ensaio clínico e uma política de cada vez.
Dr. Gagandeep Kang
Primeiras experiências e valores duradouros
Nascida em Shimla em 1962, Kang cresceu em uma família marcada pela tenacidade e curiosidade intelectual. Seus pais, ambos deslocados pela Partição, incutiram nela os valores da aprendizagem ao longo da vida e da perseverança. Seu pai, engenheiro mecânico, construiu um laboratório com ela em casa quando ela tinha apenas 12 anos. "Ele me ensinou que nunca é hora errada de aprender algo novo", lembra Kang.
Aqueles primeiros experimentos em biologia, química e física não eram apenas brincadeiras de infância; foram o início de uma mentalidade científica que mais tarde remodelaria o cenário da saúde na Índia. Kang obteve seu MBBS em 1987 e seu MD em Microbiologia em 1991 pelo Christian Medical College (CMC), em Vellore. Ela retornou à sua alma mater após um doutorado e um pós-doutorado no Baylor College of Medicine, Houstan, nos Estados Unidos, movido pelo desejo de servir a Índia por meio da ciência.
Dra. Gagandeep Kang durante sua juventude
Uma vida construída em dados, impulsionada pelo serviço
O credo profissional de Kang foi esculpido no CMC Vellore, cujo lema “Ministrar, não ser servido” permaneceu com ela durante toda a sua jornada.
Seja o que for que você faça, tem que ser sobre serviço.
Gagandeep Kang
Essa paixão pelo serviço assumiu a forma de estudos de coorte, práticos e realistas, na Índia rural, onde Kang incluiu crianças em seu estudo antes mesmo do nascimento e as acompanhou por anos para rastrear os efeitos de doenças diarreicas. Algumas dessas crianças já estão crescidas e têm seus próprios filhos. "Um dos pais veio até mim anos depois e disse: 'Agora eu sei por que você fez esse estudo'", ela lembra com carinho.
Sua pesquisa revelou a carga alarmante de infecções por rotavírus em crianças indianas e o baixo desempenho das vacinas orais em contextos locais. Em vez de aceitar limitações, ela buscou soluções. Seus estudos, muitas vezes combinando ciência laboratorial com epidemiologia rigorosa, influenciaram não apenas o meio acadêmico, mas também as políticas de saúde em toda a Índia.
A criação da Rotavac e um legado de saúde pública
Entre as contribuições mais importantes de Kang está seu papel no desenvolvimento e nos ensaios clínicos de Rotavac, a vacina nativa contra o rotavírus criada pela Bharat Biotech. Como um dos três principais pesquisadores nos ensaios clínicos de Fase III, Kang ajudou a garantir que a Índia pudesse produzir uma vacina acessível e adaptada às suas necessidades específicas. Os resultados foram revolucionários: uma intervenção que salvou vidas e que poderia ser implementada por meio de programas nacionais de imunização, especialmente em comunidades carentes.
"Começamos tentando replicar um estudo do México para identificar correlatos de proteção. Esse esforço inicial não deu certo, mas levou a algo mais importante: novos métodos laboratoriais, novos ensaios de vacinas e, por fim, uma vacina", diz ela.
A Rotavac agora é administrada a milhões de crianças indianas, reduzindo drasticamente o impacto das doenças diarreicas. Mesmo assim, Kang nunca reivindica os holofotes sozinha. "Meu impacto", ela insiste, "são as pessoas que trabalharam comigo".
Dr. Gagandeep Kang
De Vellore à Fundação Gates
Em 2023, Kang ingressou na Fundação Bill & Melinda Gates como Diretora de Diagnóstico Entérico, Genômica e Epidemiologia. Embora possa parecer um salto global, ela o vê como uma progressão natural de sua missão de vida de resolver desafios de saúde pública com evidências e empatia.Na verdade, a fundação aumentou as possibilidades”, diz ela. “Ela me permite trazer recursos para esses problemas que eu não teria como pesquisadora individual.”
Meu foco sempre foi o impacto e as pessoas para quem é difícil encontrar as intervenções certas e formular políticas.
Dr. Gagandeep Kang
Seu papel global não diluiu suas prioridades nacionais. Ela continua a servir no Grupo Consultivo Técnico Nacional sobre Imunização da Índia, bem como em comitês consultivos da OMS, incluindo aqueles sobre segurança e implementação de vacinas. Ela também desempenhou um papel fundamental na resposta da Índia à COVID-19, sendo coautora de Até Vencermos: A Luta da Índia Contra a Pandemia da COVID-19, ao lado do Dr. Randeep Guleria e do Dr.
Defendendo dados, mentoria e ambição
Para Kang, o impacto não se mede apenas pelas vacinas administradas ou pelos artigos publicados (embora ela tenha mais de 300). Ele se reflete na cultura científica que ela cultiva. "Siga os dados", disseram seus mentores no CMC. "Se os dados não correspondem à sua hipótese, provavelmente é a sua formulação que está errada."
Agora, ela ensina o mesmo a cientistas mais jovens, especialmente mulheres, incentivando-os a fazer perguntas ambiciosas e buscar evidências rigorosas. A cientista americana se orgulha mais não de reconhecimentos individuais, mas daqueles que ela capacitou para liderar a próxima geração de pesquisadores.
Em 2019, Kang tornou-se a primeira mulher indiana eleita membro da Royal Society. Foi um reconhecimento histórico que celebrou não apenas suas contribuições científicas, mas também seu papel como referência para as mulheres indianas em STEM.
Uma vida de retribuição
Apesar do seu reconhecimento global, o coração de Kang permanece firmemente ligado à Índia. "As pessoas, os problemas, as possibilidades, tudo isso me atrai de volta", reflete ela. Sua história é sobre o poder de retribuir conhecimento, talento e compaixão às comunidades de onde surgiram.
Seja desenvolvendo vacinas para crianças indianas, treinando jovens cientistas ou influenciando políticas de saúde pública, a trajetória de Kang comprova que a ciência de alto nível pode e deve estar enraizada no serviço. Ela acredita que decisões baseadas em dados, quando aplicadas com humildade e compreensão cultural, podem mudar vidas.
Sua história pessoal, assim como a canção punjabi que ela mencionou durante uma cerimônia de premiação, nasce da Partição, do progresso e da perseverança. "Tudo o que sou, aprendi com meus pais e minha irmã", disse ela, prestando homenagem a uma família que lhe ensinou o poder de aprender e fazer.
Dr. Gagandeep Kang
Ciência com alma
Agora com pouco mais de sessenta anos, Kang não dá sinais de que vá desacelerar. Seu compromisso com o combate a doenças infecciosas, seja por meio de testes de vacinas, estudos de saneamento ou epidemiologia genômica, continua com intensidade inabalável. O que a move não é o prestígio, mas as pessoas. Não apenas o passado da Índia, mas também o seu futuro.
"Sou grata", diz ela. "Grata por poder trabalhar em problemas que importam, de maneiras que podem realmente fazer a diferença."
A jornada de Gagandeep Kang nos lembra que a ciência, quando orientada por um propósito e ancorada na humildade, é a forma mais poderosa de serviço.
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Narrativa maravilhosa! Tive a sorte de trabalhar sob sua orientação desde 2011 e ela sempre foi uma inspiração para muitos jovens pesquisadores. Ótima mentora. Muitas vezes, ela concebe ou promove uma ideia e a transforma em ação num piscar de olhos. Pensa, age – nada entre os dois.